v. 23 n. 3 (2003): Jul-Sep / 2003


v. 23 n. 3 (2003)

Jul-Sep / 2003
Publicado em julho 1, 2003

Artigo


O segundo consenso de Washington e a quase-estagnac?a?o da economia brasileira
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0665

Enquanto nos aspectos éticos e sociais o governo Cardoso (1995-2002) foi bem-sucedido, seus resultados econômicos foram frustrantes. Nesses oito anos, a taxa de investimento não aumentou e a renda per capita diminuiu, enquanto as dívidas pública e estrangeira aumentaram substancialmente. Esse fraco desempenho econômico pode ser explicado por três causas encadeadas: um erro na definição da agenda, a adoção do Segundo Consenso de Washington e a alienação das elites. A decisão de definir a inflação alta como o principal problema a ser enfrentado, em vez de alcançar o equilíbrio em contas estrangeiras, representou um grande erro macroeconômico, o que pode ser explicado pelo Segundo Consenso de Washington. Esse consenso propôs na década de 1990 que os países altamente endividados deveriam crescer contando com a poupança externa, embora essa não seja a experiência entre os países da OCDE. O resultado foi avaliar o real, o aumento artificial dos salários e do consumo, de modo que, em vez de crescimento, aumentamos o endividamento. Por que essa estratégia foi adotada? Os interesses dos países ricos não são difíceis de adivinhar. Por parte do Brasil, a única explicação é a alienação das elites brasileiras em relação ao interesse nacional do país. Como resultado final, o governo Cardoso termina com outra crise na balança de pagamentos. 

Classificação JEL: O11; E11.


Notas sobre a crise brasileira de 1997-1999
Francisco L. Lopes
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572003-0666

Este artigo trata da crise brasileira de 1997-98 que levou à flutuação cambial de janeiro de 1999. Começa por mostrar como a política cambial evoluiu desde o Plano Real de 1994 e como o regime cambial se tornou uma questão crítica quando a crise começou em 1997. Ele discute a política monetária durante a crise, o programa do FMI, a banda diagonal endógena e a decisão de flutuar como uma alternativa aos controles de capital e inadimplência. Este drama de cinco anos terminou surpreendentemente bem com uma flutuação benigna, mas é útil conhecer seus detalhes, com a mistura usual de debate econômico, confrontos de personalidade e fatalidade histórica.

Classificação JEL: N16; F0; E4.


As tre?s dimenso?es do trabalho social e as tre?s o?ticas de ca?lculo do valor adicionado
Duilio de Avila Bêrni
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0667

O estudo do valor adicionado e das suas três formas de cálculo é geralmente tomado independentemente das três dimensões do trabalho social, de onde vem. O objetivo deste artigo é preencher as lacunas que partem da avaliação e classificação das diferentes dimensões assumidas pelo trabalho social, seus três circuitos de medição e a transição entre valor do trabalho e valor adicionado. Sua principal preocupação é tentar esclarecer essas relações, bem como servir como instrumento para continuar a discussão do programa de pesquisa associado à teoria dos valores.

Classificação JEL: B5; C82; P1.


Economia Política do Taylorismo, Fordismo e Teamwork
Francisco Paulo Cipolla
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572003-0699

O crescimento do trabalho em equipe como forma de organização do processo de trabalho, que, de certa forma, acaba com as formas burocráticas de controle do trabalho, tem sido interpretado por autores como Adler (1998) como parte de uma tendência à socialização da produção. O presente artigo desenvolve uma conclusão alternativa: o trabalho em equipe, conforme interpretado aqui, tem sido efetivo do ponto de vista do capital, precisamente porque faz com que o controle sobre os trabalhadores surja dos próprios trabalhadores.

Classificação JEL: B14.


Globalização e crises financeiras na América Latina
Roberto Frenkel
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0671

O artigo enfoca as crises financeira e monetária ocorridas no contexto da globalização financeira na América Latina. É apresentado em quatro seções. Uma visão sintética do processo de globalização financeira e o papel desempenhado pela AL é apresentado na primeira seção. A segunda seção apresenta um modelo que abrange as crises dos anos oitenta e noventa. A posição assumida pelo FMI é discutida. A terceira seção examina outros processos de globalização financeira nacional que não levaram a crises. As “medidas de prevenção de crises”, largamente baseadas nessas experiências, são então comentadas. Por fim, a quarta seção discute os caminhos nacionais que levam à “integração financeira segmentada” e apresenta algumas reflexões sobre problemas de coordenação internacional. 

Classificação JEL: G01; N16; E44.


A indescritível busca pelo estado de direito: promovendo a reforma judicial na América Latina
Carlos Santiso
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572003-0672

Embora exista um consenso sobre a centralidade do estado de direito tanto para o desenvolvimento econômico quanto para a consolidação democrática, a economia política da reforma legal e judicial permanece em grande parte sub-teorizada. O ensaio de revisão ressalta as tensões e trade-offs entre as diferentes estratégias e objetivos da reforma judicial na América Latina. Contrastando as experiências da Argentina e do Brasil, destaca o delicado equilíbrio entre independência e responsabilidade. Também avalia o papel das instituições doadoras, e em particular dos bancos multilaterais de desenvolvimento, na promoção da reforma judicial. Defende uma abordagem mais realista da governança judicial, concentrando-se em reformas viáveis.

Classificação JEL: F35; K00; H81; H83.


Ainda sobre a conversibilidade
Persio Arida
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0673

O documento introduz uma taxonomia 2x2 dos regimes cambiais em termos de restrições de conversibilidade (sim ou não) e a forma de determinação de preços (taxas de câmbio flutuantes versus administradas). Argumenta-se que a conversibilidade é um sinal importante para os agentes privados. A conversibilidade livre na presença de taxas de câmbio fixas reforça a credibilidade da peg; A presença de restrições à conversibilidade frente às taxas de câmbio flutuantes revela falta de confiança do Banco Central na estabilidade do padrão monetário. O primeiro foi o caso da Argentina antes do fim do plano de Cavallo; o último é o caso do Brasil hoje. A consolidação da estabilidade monetária nas circunstâncias atuais exige um esforço fiscal sustentado; entretanto, um processo pré-anunciado de elevação gradual das restrições à conversibilidade pode, de alguma maneira, aliviar esse esforço, tornando-o politicamente viável.

Classificação JEL: F41.


Reflexo?es Po?s-Cepalinas sobre Inflac?a?o e Crise Externa
Edmar Lisboa Bacha
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0674

O Manifesto da ONU / CEPAL 1949 centrava-se na inflação e no balanço de pagamentos como questões críticas sobre o desenvolvimento da América Latina. Cinquenta anos depois, a América Latina conseguiu conceitualmente e na prática superar a síndrome da inflação alta. Não é assim o estrangulamento externo, que ainda está muito presente na região. Depois de revisar os avanços conceituais recentes no entendimento do problema da “restrição do dólar”, o artigo discute a proposta de Persio Arida para uma moeda flutuante totalmente conversível como meio de construir um mercado financeiro doméstico de longo prazo.

Classificação JEL: F32; F41; F43; O11; O54.


Por uma moeda plenamente conversi?vel
Persio Arida
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572004-0675

O documento argumenta que a reforma monetária realizada em 1984 deve ser completada tornando o real totalmente conversível em outras moedas. No atual status quo, o real é conversível em algumas circunstâncias e para alguns agentes, enquanto o Banco Central pode suspender a conversibilidade ou alterar suas regras por decreto administrativo. Como consequência, há um prêmio de risco de conversibilidade que leva a taxas de juros domésticas mais altas ou a uma moeda doméstica mais depreciada, ou a ambas. O processo de liberalização dos movimentos de capital deve ser pré-anunciado e implementado em etapas. O regime de livre conversibilidade não é uma panacéia, mas um instrumento importante para restaurar a credibilidade do padrão monetário.

Classificação JEL: F41.