v. 37 n. 3 (2017): Jul-Set / 2017


v. 37 n. 3 (2017)

Jul-Set / 2017
Publicado em fevereiro 26, 2020

Artigo


Booms de Financeirização com Doença Holandesa e Ciclos Externos em Países Desenvolvidos
Alberto Botta
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a01

Neste artigo nós investigamos a dinâmica de médio a longo prazo que emerge do fenômeno da doença holandesa com financeirização. Nos inspiramos no caso mais recente do padrão de desenvolvimento da Colômbia. A doença holandesa pura causa desindustrialização, em primeiro lugar, ao apreciar permanentemente a taxa de câmbio no longo prazo. A financeirização neste caso, isto é, os maiores influxos de capital em um cenário de excesso de otimismo financeiro puxado pela existência de recursos naturais, leva no médio prazo a uma maior volatilidade na taxa de câmbio e à instabilidade macroeconômica. Este processo prejudica ainda mais o desenvolvimento do setor manufatureiro ao aumentar a incerteza na economia. A recomendação é, portanto, pela adoção do controle de capitais e por uma política monetária desenvolvimentista a fim de confrontar os fenômenos da financeirização e da doença holandesa.

Classificação JEL: F32; O14; O24.


Das explicações para a quase-estagnação da economia capitalista no Brasil
Eleutério F. S. Prado
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a02

Neste artigo, examinam-se três importantes linhas de explicação para essa ocorrência histórica que já dura quase quatro décadas. Discutem-se perspectivas que se encaixam nos rótulos de neoliberal, novo-desenvolvimentista e marxista. Não apenas, porém, do enfoque científico, mas também do ponto de vista da justificação e/ou da crítica econômico-política da realidade existente. A dependência na relação periferia-centro, dentro do horizonte da duração possível do capitalismo, aparece como questão central. A política econômica dos governos figura como importante, mas sem primazia em relação ao evolver estrutural das relações sociais capitalistas.  A conclusão não flerta com qualquer forma de otimismo sobre o progresso – ao contrário, vê o futuro como bem difícil.

Classificação JEL: N10; O11; O40.


Transformando Recursos Naturais em Vantagem Industrial: o Caso da Indústria de Terras Raras na China
Carlos Aguiar de Medeiros, Nicholas M. Trebat
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a03

Este artigo analisa o desenvolvimento da indústria de terras raras da China, destacando o papel de iniciativas estatais na transição deste país de exportador de terras raras para grande consumidor industrial dessas matérias-primas. Tal como outras potências industriais no passado, China se aproveita de suas reservas de matérias-primas estratégicas, disponíveis em grande quantidade e a baixo custo de produção no território chinês, para promover setores de maior valor agregado. Argumentamos que, no caso de terras raras, esta estratégia tem sido bem sucedida, rompendo com uma divisão internacional clássico do trabalho que existia antes de 2000, em que China exportava a maior parte de sua produção de terras raras para países ricos, e transformando as empresas chinesas em exportadores a jusante de produtos mais sofisticados.

Classificação JEL: O1; O2; O3; N5.


Teorias econômicas Marxistas e a Grande Recessão
Alex Wilhans Antonio Palludeto, Rogerio P. de Andrade
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a04

O presente artigo dedica-se ao exame de algumas das principais interpretações de inspiração marxista acerca da Grande Recessão que se apresentam publicadas sob a forma de livros. Do amplo conjunto de publicações sobre o tema, as seguintes obras foram analisadas: The Great Financial Crisis, de John Bellamy Foster e Fred Magdoff (2009); The Enigma of Capital, de David Harvey (2011), publicado originalmente em 2010; The Crisis of Neoliberalism, de Gérard Duménil e Dominique Lévy (2011); e The Failure of Capitalist Production, de Andrew Kliman (2012). Argumenta-se que o debate marxista em torno das causas últimas da Grande Recessão pode ser sistematizado a partir da seguinte clivagem: 1) de um lado, os autores que atribuem a turbulência à forma política/econômica/institucional específica assumida pelo sistema capitalista ao longo das últimas décadas; 2) de outro, aqueles que interpretam a crise recente como uma manifestação própria da dinâmica capitalista em geral – e não do modo particular que esta supostamente apresenta. Enquanto Foster & Magdoff (2009), Harvey (2011) e Duménil & Lévy (2011) compõem o primeiro grupo, Kliman (2012) pode ser visto como representante da segunda vertente.

Classificação JEL: E11; G01.


Rumo a uma história intelectual da economia evolucionária: competição e luta versus cooperação e ajuda mútua
John Hall, Svetlana Kirdina-Chandler
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a05

Nossa investigação considera as origens da Economia Evolutiva reintroduzindo um debate que teve lugar na Rússia no século XIX e início do século XX. Respostas à "Origem das Espécies" de Charles Darwin são consideradas, especialmente as críticas que enfatizam a ênfase de Darwin na competição e na luta na seleção natural, que podem ser traçadas diretamente a Thomas Robert Malthus. Considerando contribuições desafiadoras feitas por vários eruditos russos, colocamos uma ênfase especial no foco de Peter Kropotkin na cooperação e na "ajuda mútua" na seleção natural e na evolução. Em seguida, especulamos sobre a semelhança encontrada nas visões evolucionistas avançadas por Kropotkin e seu contemporâneo americano, Thorstein Veblen.

Classificação JEL: B1; B2; B3.


Direito e institucionalismo econômico: apontamentos sobre uma fértil agenda de pesquisa
Diogo R. Coutinho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a06

O artigo explora a dimensão jurídica nos trabalhos de autores pertencentes a diferentes correntes institucionalistas. Argumenta que análises centradas nas instituições - em especial uma delas, a chamada economia política institucionalista - oferecem ao direito e aos juristas engajados na teoria e na prática do direito econômico a oportunidade de tomar parte em um rico diálogo sobre do desenvolvimento econômico e seus enigmas. Isso resulta do fato de o institucionalismo ser um campo eminentemente interdisciplinar e transversal, no qual as agendas de pesquisa das ciências sociais podem almejar ganhos explicativos conjuntos e fertilizações cruzadas entre as disciplinas. 

Classificação JEL: B52; J88; K29; K40.


Entendo e superando o paradoxo dos "lucros positivos com mais-valia negativa"
Gustavo Daou Lucas, Franklin Serrano
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a07

Este artigo provê uma explicação do significado econômico do famoso paradoxo dos “lucros positivos com mais-valia negativa”, apresentado por Steedman (1975), e demonstra que apesar dos valores-trabalho individuais poderem ser negativos em alguns sistemas de produção conjunta, a afirmação de que o trabalho incorporado no excedente da economia (i.e., mais-valia) é negativa baseia-se em pressupostos sem sentido (como níveis de atividade negativos). Oferecemos também uma forma de calcular a mais-valia de sistemas de produção conjunta que supera o problema e restabelece a proposição que afirma que trabalho excedente positivo é condição necessária para a existência de lucros positivos.

Classificação JEL: B12.


Impacto do crescimento econômico sobre as reservas internacionais do Brasil
Mohammad Kashif, P. Sridharan, S. Thiyagarajan
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a08

Esse estudo investigou o impacto do crescimento econômico sobre as reservas internacionais brasileiras no contexto do Mecanismo de Correção de Erros, utilizando dados do período 1980-2014. Os resultados revelam que o crescimento econômico é altamente significativo. A partir da estimativa do nosso modelo, argumentamos que o crescimento econômico e as reservas internacionais têm relação positivo de longo prazo. As estimativas do modelo de correção de erro são válidas porque o termo de correção de erro é negativo e estatisticamente significativo. Além disso, nosso modelo sugere que o crescimento econômico também tem relação de curto prazo. A velocidade de ajuste é mais de quarenta por cento, indicando que o termo de correção de erro corrige o desequilíbrio do ano anterior à taxa de 40,4%.

Classificação JEL: F41; F43; F62.


Reforma da previdência e regime complementar
Lena Lavinas, Eliane de Araújo
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a09

Este artigo interroga a relação entre o sistema público de aposentadorias e pensões no Brasil e o regime complementar de capitalização (ou de contribuição definida), frente a mais uma investida de reforma contra o seguro social. Após caracterizar brevemente o perfil do sistema público e a evolução recente das aposentadorias fully-funded,  discute os pressupostos de que este regime seria mais benéfico à elevação da poupança privada e, portanto, do investimento, dimensões sempre problemáticas da dinâmica do desenvolvimento no Brasil. Conclui que a expansão da previdência complementar privada não contribui nem para o aumento do investimento, nem para a ampliação do mercado de capitais, tendendo, ao contrário, a estimular a concentração de renda, já alarmante no país. 

Classificação JEL: H55; H58; J11; J21; J24.


A Lei de Thirlwall multissetorial com fluxos de capitais: Uma análise do plano nacional de exportações (2015-2018) usando simulações computacionais
Guilherme Jonas C. da Silva, Júlio Fernando Costa Santos, Lívia Nalesso Baptista
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572017v37n03a10

Este trabalho tem como objetivo avançar no debate em torno da Lei de Thirlwall Multissetorial, incluindo os fluxos de capitais setoriais e suas implicações para a nova estratégia de crescimento da economia brasileira, que visa estimular as exportações por meio da diversificação dos produtos, da agregação de valor e do aumento da intensidade tecnológica das exportações brasileiras. Para tanto, desenvolve-se um modelo multissetorial com fluxos de capitais setoriais e, na sequência, realizam-se algumas simulações computacionais considerando os principais setores e parceiros econômicos do país (China, Estados Unidos e Bloco Europeu). Os resultados sugerem que a melhor estratégia seria estimular os setores específicos, ou seja, ampliar a participação dos setores nos quais o país possua maior vantagem comparativa em relação a cada um dos seus parceiros comerciais (Manufaturados – EUA, Semimanufaturados – Europa, Básicos – China). Não obstante o resultado obtido na simulação, nos moldes do modelo proposto por Hausmann et al. (2004), pode gerar a aceleração do crescimento econômico. Assim, o Plano Nacional de Exportações (2015-2018) deve dar preferência à ampliação de incentivos a setores que apresentem elevadas razões das elasticidades no sentido de Thirlwall.

Classificação JEL: O41; C63.