v. 11 n. 3 (1991): Jul-Sep / 1991


v. 11 n. 3 (1991)

Jul-Sep / 1991
Publicado em julho 1, 1991

Artigo


Uma crítica ao consenso de Washington
Pedro S. Malan
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0847

Essa foi a intervenção do autor no painel de encerramento de uma conferência
em homenagem a Albert Hirschman sobre estratégias de desenvolvimento para a América
Latina. Chama a atenção para algumas deficiências do chamado “Consenso de Washington”,
a expressão adequada de John Williamson para descrever a visão de que políticas melhores
levam a melhores resultados, políticas piores a piores resultados. Isso é verdade, mas
banal, trivial e tautológico. O autor sugere que existem três tipos de políticas a serem abordadas:
a primeira está relacionada à busca pela estabilidade macroeconômica; o segundo às
reformas microeconômicas muito necessárias; o terceiro é o elo que falta no Consenso de
Washington e tem a ver com a retomada do crescimento e investimento com a mudança tecnológica
em uma economia mundial cada vez mais competitiva. Isso requer, além da macro
estabilidade e das micro reformas, algumas visões do futuro e um padrão muito mais eficaz
de interações entre o setor privado e um setor público modernizado e ativo, dada a interdependência
das decisões de investimento na presença de externalidades gerais da economia.

Classificacão JEL: B22; O11; O43.


Mercado de trabalho e dança distributiva
Edward J. Amadeo, José Márcio Camargo
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0837

Este artigo examina os efeitos da segmentação dos mercados de trabalho e bens
sobre a dispersão de preços e salários relativos na economia brasileira. O argumento teórico
baseia-se no comportamento das empresas nos setores oligopolista e competitivo da
economia, por um lado, e no comportamento do trabalho organizado e não organizado,
pelo outro. Sugerimos que as negociações entre firmas oligopolistas e trabalho organizado
possam ser vistas como um jogo de soma positiva, enquanto um jogo de soma zero caracteriza
a distribuição de renda na economia como um todo. Portanto, concluímos que houve
uma redistribuição de renda em favor dos lucros e salários dos agentes que operam nos
setores oligopolistas em detrimento dos outros agentes da economia.

Classificação JEL: J31.


Distribuição de renda, demanda efetiva e acumulação
Fernando J. Cardim de Carvalho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0848

O artigo apresenta um levantamento das principais escolas teóricas abordando
a determinação dos perfis de distribuição de renda. Esta questão tem sido o núcleo da
teoria econômica desde o seu nascimento, com Adam Smith. A Economia Política Clássica
enfocou as relações entre a distribuição funcional da renda e o processo de desenvolvimento,
propondo que o crescimento pudesse ser promovido pelo aumento da participação nos
lucros da renda nacional. A economia neoclássica manteve o foco na distribuição funcional,
relacionando-a, no entanto, a uma noção de relativa escassez de fatores de produção. A
Teoria Geral de Keynes mudou a ênfase na distribuição pessoal que estaria relacionada à
formação dos vários elementos da demanda agregada. Os estudos pós-keynesianos tentaram
relacionar os pontos de vista de Keynes às ideias clássicas sobre distribuição de renda. O
artigo termina com uma breve análise de alguns estudos sobre perfis de distribuição de
renda no Brasil.

Classificação JEL: B12; B22; E25.


Café, cacau e crescimento econômico no Brasil
Maria J. Willumsen, Amitava Krishna Dutt
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0862

Este artigo analisa os impactos dos aumentos de preços de dois produtos primários
– café e cacau – no crescimento das economias nacional e regional. Ele tenta entender
os fatores que determinaram efeitos salutares na região cafeeira e efeitos insignificantes
na região cacaueira. Os resultados sugerem que apenas uma resposta parcial pode ser encontrada
na natureza desses produtos, conforme proposto pela abordagem “básica”. Os
maiores efeitos parecem estar relacionados com algumas características sociais e macroeconômicas
prevalecentes nessas economias durante o período de “boom”.

Classificação JEL: O47; Q11.


Os programas de estabilização ortodoxos no Brasil - 1964/68 e 1980/84: uma reflexão sobre suas conseqüências perversas
Leonel Mazzali
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0863

Os efeitos perversos associados aos programas ortodoxos de estabilização,
especialmente a inflação persistente acompanhada de um período prolongado de recessão
com o desemprego, atraem a atenção para a avaliação da consistência entre a abordagem
ortodoxa e a situação econômica que caracteriza a crise. Em seguida, o estudo comparativo
de duas políticas de estabilização econômica no Brasil, nos anos sessenta e oitenta – PAEG
(1964-1968) e Programa de Estabilização (1980-1984) – oferece a oportunidade de
desenvolver uma análise das incoerências na visão ortodoxa sobre as raízes da inflação e
desequilíbrio da balança de pagamentos.

Classificação JEL: E31.


Inflação, clientelas e preços relativos
Gustavo H. B. Franco, Carlos Parcias Jr.
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0868

O artigo discute os fatores que governam as mudanças nos preços relativos,
frequentemente observados em desinflações repentinas. Ele examina as mudanças
induzidas pela inflação no comportamento do consumidor nos mercados com informações
imperfeitas e, em linhas semelhantes, discute maneiras pelas quais a inflação afeta as
decisões de precificação das empresas, concentrando-se mais especificamente nas mudanças
na elasticidade da demanda e na incerteza do fluxo de caixa.

Classificação JEL: E31.

Comentários


A metodologia enganosa do déficit operacional
Álvaro Antônio Zini Jr.
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0872

O conceito de déficit operacional é considerado por muitos economistas como
o conceito relevante de déficit público. Argumenta-se neste artigo que o conceito é falho e
que sua metodologia atual de estimativa é inadequada. Em 1990, por exemplo, o governo
deduziu uma inflação de 1355% do déficit nominal (PSBN), mas contabilizou apenas
uma despesa de 837% como correção monetária no lado da despesa, para chegar a uma
estimativa de um “superávit” operacional de 1,2% sobre o PIB. Argumenta-se que esse
número é ilusório e que uma alternativa melhor desperta um conceito ex ante de déficit
para decisões políticas.

Classificação JEL: H62; H60.

Notas e Comentários


Câmbio, dolarização e competitividade
Pierre Salama
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0866

Diferentemente de situações anteriores, a inflação no Brasil segue um equilíbrio
muito difícil: continua muito alta, mas não explode em hiperinflação. Este processo
leva a um produto fraco e distorções persistentes baseadas na inflação. O autor sugere
uma solução de inspiração coreana, onde o Estado tem um papel ativo na promoção de
indústrias e exportações. Um instrumento importante é a taxa de câmbio.

Classificação JEL: E31; L52; F31.


Concentração econômica e demográfica no Brasil: recente inversão do padrão histórico
George Martine, Clélio Campolina Diniz
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0873

O Brasil promulgou uma série de políticas para realocar e espalhar a população
e os recursos produtivos para outras áreas do país além do litoral tradicional. No entanto,
São Paulo continua a concentrar o maior contingente populacional do Brasil e a representar
o maior aumento populacional. Este artigo analisa os processos que levaram a essa
condição e as alternativas possíveis.

Classificação JEL: R11; R12; R14.

Documento


Aníbal Pinto: um economista latino-americano
José Serra
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-0875

A obra de Aníbal Pinto está nas origens da escola estruturalista e da crítica, desde o final dos anos 40, ao paradigma dominante no mundo acadêmico dos países desenvolvidos. A crítica estava inicialmente centrada na rejeição ã ideia de que, terminada a reconstrução europeia, o comércio multilateral e a livre convertibilidade de todas as moedas garantiriam ritmos de prosperidade semelhantes entre todos os países integrantes desse sistema, pobres e ricos. Um corolário natural de rejeição a essa tese estava na ideia-forçada da idustrialização, com suas exigências de protecionismo seletivo; desenvolvimento da infraestrutura; produção, inclusive estatal, de insumos básicos; programação e financiamento dos grandes investimentos. Tais preocupações marcaram os primeiros anos da CEPAL e o começo da obra de Aníbal Pinto, um dos mais criativos, profícuos e influentes estruturalistasm latino-americanos.

Classificação JEL: B31; B22.


Caio Prado Jr.
Pedro Cezar Dutra Fonseca
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31571991-3139

Obituário de Caio Prado Jr.

 

Classificação JEL: B31; B25; B32.