v. 40 n. 4 (2020): Out-Dez/2020


v. 40 n. 4 (2020)

Out-Dez/2020
Publicado em outubro 23, 2020

Artigo


O declínio do neoliberalismo: uma peça em três atos
Fernando Rugitsky
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3202

O objetivo deste artigo é examinar as consequências políticas e econômicas da pandemia causada pelo novo coronavírus, colocando-a no contexto de um interregno gramsciano. Primeiro, o desmonte da articulação triangular do mercado mundial que caracterizou a década anterior a 2008 é examinado. Segundo, a onda global de protestos e os deslocamentos eleitorais observados desde 2010 são interpretados como evidências de uma crise da hegemonia neoliberal. Juntas, as crises econômica e hegemônica representam o interregno. Por fim, argumenta-se que o combate à pandemia pode levar à superação do neoliberalismo.

Classificação JEL: B51; E02; O57.


Financiamento da Covid-19, inflação e restrição fiscal
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3193

A pandemia do Covid-19 está produzindo uma depressão econômica que poderia ser substancialmente reduzida se o Estado em cada país, além de fazer os gastos necessários na saúde, compensasse as empresas e famílias que estão perdendo com as políticas de distanciamento social e confinamento. Os governos, no entanto, limitam seus gastos para não aumentar a dívida pública. Mas existe a possibilidade de os bancos centrais comprarem novos títulos dos tesouros dos próprios países para financiar tais gastos. Considerando as várias restrições econômicas enfrentadas pelos formuladores de políticas, essa política não entrará em conflito com a restrição de inflação. O dinheiro é uma variável endógena que não causa, mas apenas sanciona a inflação em curso. O financiamento monetário entra parcialmente em conflito com a restrição fiscal, mas evita o aumento da dívida pública. E não traz as más consequências da indisciplina fiscal – demanda excessiva que, sucessivamente, causa aumento das importações e déficits em conta-corrente que apreciam a moeda nacional, aceleração ou inflação e crises de balanço de pagamentos. O financiamento monetário do Covid-19 não causará nenhum desses três males.

Classificação JEL: E3; E6.


A pandemia do Covid-19: cenários teóricos de seus impactos socioeconômicos na América Latina e no Caribe
Cintya Lanchimbra, Andrea Bonilla-Bolaños, Juan Pablo Díaz-Sánchez
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3199

Este artigo apresenta alguns cenários teóricos dos impactos socioeconômicos causados pela pandemia da Covid-19 na América Latina e no Caribe (ALC). Para isso, após uma breve revisão da literatura de pandemias anteriores, usamos a teoria macro e microeconômica, juntamente com dados agregados, a fim de fornecer implicações esperadas da pandemia de Covid-19 para a região da ALC. No nível macroeconômico, explicamos como o choque de Covid-19 está causando uma redução na oferta agregada e na demanda agregada, mergulhando a região em uma recessão, e por que essa recessão é perigosamente prejudicial para as economias da ALC. No nível micro, descrevemos por que algumas empresas se adaptariam para permanecer no mercado ou até para crescer; por outro lado, alguns deles sairiam do mercado no curto prazo. Para os consumidores, o impacto dessa crise sanitária está relacionado à mudança nas preferências e nas relações dos familiares devido a quarentenas prolongadas.

Classificação JEL: D10; D20; D84; E10; F22.


Impactos da crise da Covid-19 no mercado de trabalho brasileiro
Lauro Mattei, Vicente Loeblein Heinen
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3200

Neste artigo analisam-se possíveis efeitos da crise econômica associada à pandemia da Covid-19 sobre o mercado de trabalho brasileiro. Na primeira parte do trabalho são analisados os dados recentes da PNAD Contínua para estabelecer um breve panorama do mercado de trabalho às vésperas da pandemia, destacando-se as principais tendências sobre a evolução do desemprego e da ocupação nos distintos setores de atividade econômica, bem como sobre os rendimentos do trabalho. Já na segunda parte do estudo são discutidas as medidas adotadas pelo Governo Federal no que se refere ao emprego e à renda e seus prováveis impactos sobre os trabalhadores. Finalmente, a terceira contém as considerações finais do trabalho, momento em que se procura elucidar os principais problemas para a agenda dos trabalhadores diante da nova conjuntura econômica, social e política do país.

Classificação JEL: J23; J30; J38.


Liberalização da conta financeira e seus efeitos sobre crescimento econômico e instabilidade financeira: os modelos ortodoxos exante estavam errados
Diego Garcia Angelico, Giuliano Contendo de Oliveira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3027

As crises financeiras nas economias emergentes durante os anos 1990 e 2000 impulsionaram a academia e as instituições multilaterais a investigar se os benefícios prometidos pela abertura financeira estavam sendo observados. No decorrer de estudos empíricos sobre o tema, diversos pressupostos teóricos formulados exante sobre globalização financeira foram desmistificados, e diversos riscos e disfunções até então desconhecidos começaram a ficar evidentes. Este artigo analisa os principais estudos empíricos mainstream sobre os efeitos da globalização financeira publicados nas últimas duas décadas e mostra que os principais pressupostos convencionais que foram formulados para sustentar teoricamente os processos de liberalização da conta financeira que ocorreram ao longo dos anos 1980 e 1990 estavam equivocados. 

Classificação JEL: F3; F4; F6.


Redesenho ou extinção dos antigos Estados Desenvolvimentistas? O Leste Asiático no pós-crise financeira de 2008
Roberta Rodrigues Marques da Silva, Rafael Shoenmann de Moura
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3140

Este artigo investiga comparativamente a dinâmica recente de desenvolvimento de quatro economias políticas do Leste Asiático: Japão, Coreia do Sul, Taiwan e China. Analisamos como a conjuntura crítica gerada pela crise sistêmica do subprime dos EUA afetou suas capacidades estatais; particularmente em relação à política industrial, sendo mediada pelos respectivos marcos regulatórios e institucionais. Além disso, comparamos os impactos da crise de 2008 e da anterior crise regional asiática de 1997. Nossas descobertas indicam que as capacidades do Estado, associadas à construção histórica de um Estado Desenvolvimentista, foram um recurso central para entender a resiliência de cada economia política.

Classificação JEL: O1; O5.


O papel do crédito na divergência regional: regiões espanholas e países da Zona do Euro
Sheila C. Dow, Carlos J. Rodríguez-Fuentes
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3051

Este artigo fornece uma explicação teórica do papel das diferenças regionais nos padrões cíclicos de disponibilidade de crédito para padrões de convergência ou divergência regional. Embora as teorias dominantes impliquem equalização dos fluxos regionais de capital ou menor disponibilidade de crédito para regiões periféricas devido a imperfeições do mercado, a teoria pós-keynesiana de preferência pela liquidez e estrutura financeira implica o espaço para uma maior volatilidade de crédito para regiões periféricas, especialmente em períodos de crise, contribuindo para divergência econômica real. Esta última conta é avaliada por meio de uma análise empírica dos padrões de crédito bancário durante o ciclo de negócios entre as regiões espanholas e os países da zona do euro.

Classificação JEL: B5; E5; R11.


Como a competição promoveu a complexidade social: o papel da guerra no surgimento dos Estados, tanto antigos como modernos
Eduardo Alberto Crespo, Tiago Nasser Appel
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3055

A origem da ultrassociabilidade humana – a habilidade para cooperar em sociedades enormes de indivíduos não-aparentados geneticamente – sempre interessou teóricos sociais e evolucionários. Neste artigo, usamos a chamada seleção cultural de grupo ou multinível para explicar como os traços culturais necessários para viabilizar sociedades complexas surgiram necessariamente como resultado da competição entre grupos culturais. Nós aplicamos a teoria a duas transformações particulares: (i) a emergência dos primeiros Estados e sociedades hierárquicas, e (ii) a ascensão dos Modernos Estados-Nação e a consequente Grande Divergência de renda entre o Ocidente e o “Resto” que começou no século XVIII.

Classificação JEL: O43; O1; N00; H56; F59.


A Economia Institucional de Thorstein Veblen e a Economia Comportamental de Daniel Kahneman & Amos Tversky: uma análise de pontos convergentes
Tainari Taioka, Felipe Almeida, Ramón Garcia Fernádez
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3146

A Economia Institucional original e a Economia Comportamental são duas abordagens que desafiaram a tomada de decisão da economia convencional de seu tempo. Dessa forma, partindo de uma análise da Economia Institucional original sustentada por Thorstein Veblen e da Economia Comportamental de Daniel Kahneman e Amos Tversky, o presente estudo tem como objetivo analisar se existem elementos convergentes nessas abordagens. Como a questão central deste artigo é a tomada de decisão, a convergência entre essas abordagens se debruça sobre suas bases psicológicas. A base psicológica da Economia Institucional original corresponde à filosofia pragmática norte-americana. Este estudo oferece uma abordagem psicológica do aprendizado social e a teoria da dissonância cognitiva como a base psicológica da Economia Comportamental.

Classificação JEL: B52; D03.


Marx e o capitalismo do século XXI
Rosa Maria Maques, Patrick Rodrigues Andrade
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3059

Este artigo tem como objetivo analisar o capitalismo contemporâneo à luz da contribuição de Marx em O Capital. Para isso, na primeira parte são discutidos sua compreensão sobre o capital monetário, o capital portador de juros e o capital fictício, enfatizando os aspectos fetichizados e a autonomização que esses últimos conquistaram com relação à produção de mercadorias, isto é, de novo valor. Na segunda parte são analisados o volume assumido pelo capital fictício no capitalismo mundial e suas consequências para o interior das empresas e para a manutenção do emprego, entre outras. Entre suas conclusões aponta-se que essa relativa autonomização não constitui uma anomalia ou cancro. Ao contrário, é expressão do desenvolvimento lógico da forma capital, quando a ele não se colocam freios, dada a situação de recuo em que se encontram os trabalhadores no plano internacional. 

Classificação JEL: E11; F3O; G10.


Rivalidade Geopolítica e Políticas de Desenvolvimento na Era Vargas (1930-1950)
Ricardo Zortéa Vieira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572020-3069

O objetivo deste artigo é demonstrar o impacto da rivalidade geopolítica regional sul-americana sobre o desenvolvimentismo brasileiro. No começo do século XX, oficiais do Exército formularam um paradigma militar que associava a defesa contra a Argentina com a centralização política e a industrialização. Após a Revolução de 1930 esse pensamento desenvolvimentista geopoliticamente orientado se tornou referência no Alto-Comando do Exército que, utilizando a nova posição do Exército na política nacional, converteu-se em patrocinador político decisivo de iniciativas de desenvolvimento na área da petroquímica, siderurgia e transportes. A geopolítica regional foi assim uma das variáveis-chave do início do desenvolvimentismo brasileiro.

Classificação JEL: N46; 025.