v. 42 n. 4 (2022): Out-Dez / 2022


v. 42 n. 4 (2022)

Out-Dez / 2022
Publicado em dezembro 21, 2022

Artigo


Taxa de câmbio de equilíbrio: metodologia e estimativas para países da América Latina
Luiz Carlos Bresser-Pereira, Nelson Marconi, Tiago Porto, Eliane Araujo, Rafael Leao
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3436

Este artigo propõe uma metodologia para a estimação da taxa de câmbio de
equilíbrio em conta-corrente – a taxa de câmbio que garante o equilíbrio intertemporal
da conta-corrente de um país. Além disso, a metodologia é testada através de técnicas
econométricas apropriadas (Modelos VECM) para Argentina, Brasil, Chile e Colômbia,
usando dados trimestrais de cerca de 2000 (de acordo com a disponibilidade de dados
para cada país) até 2020. O modelo inclui tanto variáveis como termos de troca, comércio
de bens e serviços como porcentagem do PIB e PIB per capita, bem como variáveis de
política de curto prazo, como diferencial de taxas de juros e EMBI plus. Além de propor uma metodologia inovadora para estimar a taxa de câmbio de equilíbrio em conta-
-corrente, o artigo traz insights importantes em termos de apreciação (depreciação) crônica
e cíclica da taxa de câmbio nos países da AL. Além disso, mostra alta correlação entre os
desalinhamentos negativos (positivos) da taxa de câmbio e os déficits em conta-corrente
(superávits) nos países analisados.

Classificação JEL: F30; F31; F4.


Uma nota sobre a economia política das taxas de câmbio na Argentina: o novo e clássico desenvolvimentismo reavaliado
Alejandro Fiorito, Matías Vernengo
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3437

O artigo desenvolve um modelo no qual se explicita a relação entre a taxa de
câmbio real e o salário real, no contexto de distribuição de renda conflitante. Nota-se que
o banco central tenta regular a relação distributiva taxa de câmbio e salários reais por meio
de mudanças na taxa de juros. O ponto teórico é que, em certas circunstâncias, um nível
relativamente depreciado ou alto da taxa de câmbio real pode reduzir os salários reais e ter
um impacto negativo no crescimento econômico. O artigo também fornece algumas evidências
para o caso argentino e sugere que o clássico pessimismo da elasticidade desenvolvimentista
parece ser validado no caso da Argentina. Além disso, o uso da taxa de câmbio
como instrumento para reforçar a redistribuição para longe da classe trabalhadora e para
promover o investimento e o crescimento também não nasce nos dados.

Classificação JEL: O11; F31; O54.


O impacto dos desalinhamentos cambiais sobre o investimento industrial no Brasil
Nelson Marconi, Tiago Couto Porto, Eliane Araujo
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3435

Analisamos a hipótese de que as variações do investimento manufatureiro são
influenciadas pela diferença entre as taxas de câmbio reais efetivas e de equilíbrio industrial
e pela diferença entre as taxas de câmbio em conta-corrente e de equilíbrio industrial
(uma proxy para a doença holandesa). A taxa de câmbio de equilíbrio em conta-corrente
é definida como a taxa que garante que a conta-corrente de um país esteja equilibrada intertemporalmente,
e a taxa de câmbio de equilíbrio industrial corresponde à taxa que torna
competitivas as empresas que produzem bens e serviços não commodities comercializáveis
internacionalmente no chamado estado da arte. Primeiramente, são explicados os conceitos
e metodologias para estimar a conta-corrente e a taxa de câmbio de equilíbrio industrial. Em
seguida, para testar nossa hipótese, foi construído um banco de dados para 24 setores manufatureiros
brasileiros de 2007 a 2017. Um modelo dinâmico de dados em painel foi adotado
para estimar a relação entre esses desalinhamentos cambiais e o investimento industrial. Os
resultados sugerem que a magnitude dessas diferenças influencia as decisões de investimento,
contribuindo potencialmente para o crescimento e desenvolvimento econômico.

Classificação JEL: E22; F31; L60.

 


A correção do desalinhamento da taxa de câmbio real pode ajudar os países a escapar da armadilha da renda média? Uma análise de uma economia baseada em recursos naturais: Chile
Esteban Pérez Caldentey, Lorenzo Nalín, Leonardo Rojas Rodriguez
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3438

O Chile é classificado como um país de alta renda, mas sofre das mesmas fraquezas
que afetam os países de renda média. As mesmas políticas que estimularam a dependência
dos recursos naturais e restringiram a expansão da base produtiva e exportadora,
impediram a utilização da política cambial como instrumento de desenvolvimento econô-mico e social. O desempenho da economia é fortemente determinado pela evolução dos
termos de troca que se correlaciona negativamente com a taxa de câmbio real. Além disso,
a taxa de câmbio nominal tem sido usada principalmente como instrumento para fins de
estabilidade de preços e não para desenvolvimento econômico. Com base nos conceitos de
desalinhamento cambial desenvolvidos pelo Novo Desenvolvimentismo, a análise mostra
que, no nível macroeconômico, a taxa de câmbio real se valorizou ao longo do tempo. No
entanto, as evidências também mostram que o setor industrial/manufatureiro possui uma
vantagem competitiva de preço externo em relação ao restante da economia. Isso levanta a
questão mais ampla de até que ponto a competitividade de preços é um incentivo poderoso
o suficiente para uma mudança estrutural de base ampla em direção à inovação e à produção
mais intensiva em conhecimento, necessária para escapar da armadilha da renda média.

Classificação JEL: E32; F41; O11; O24; O54.


Taxa de equilíbrio da conta-corrente na Colômbia (2000-2020)
Gonzalo Hernández
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3439

Utilizando estimativas de Bresser-Pereira et al. (2021), este artigo analisa o desalinhamento
entre a taxa de câmbio real e a taxa de câmbio de equilíbrio em conta-corrente
na Colômbia nas últimas duas décadas (2000-2020). Evidências sugerem que o ciclo de alta
e queda das commodities neste período é importante para explicar (i) a principal tendência
de desalinhamento, (ii) a deterioração da conta-corrente nos últimos anos e (iii) o desempenho
macroeconômico geral da economia colombiana. Uma discussão sobre desenvolvimento
macroeconômico e estabilidade também é fornecida no contexto da configuração financeira
colombiana, caracterizada por um regime cambial flexível, independência do banco
central e metas de inflação. As ideias neste artigo são consistentes com os elementos-chave
da Teoria do Novo Desenvolvimentismo.

Classificação JEL: E44; E61; F41.


Equilíbrio em conta-corrente e câmbio real: o caso da manufatura no México, 2001-2019
Lorenzo Nalin, Juan Carlos Moreno Brid
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3440

Neste artigo, seguimos Bresser-Pereira et al. (2021) e estimar para o México
uma série da taxa de câmbio real (RER) que equilibra a conta-corrente do México para o
período 2001q1-2019q4. Neste processo, levamos em consideração vários determinantes,
incluindo variáveis de política e indicadores financeiros, a evolução dos termos de troca,
bem como uma aproximação para os efeitos Balassa-Samuelson, entre outros. Nossos
resultados mostram que na maior parte do período analisado houve uma tendência de
tendência à supervalorização, com a TCR flutuando acima do seu nível de equilíbrio.
Com métodos de cointegração e técnicas dinâmicas de mínimos quadrados ordinários
(DOLS), examinamos os efeitos da desvalorização e desvalorização da taxa de câmbio na
manufatura; desagregados em três setores: i) intensivos em tecnologia, ii) intensivos em
recursos naturais e iii) atividades intensivas em mão de obra. No geral, nossos resultados
indicam que a taxa de câmbio real tem uma influência significativa na taxa de expansão do
PIB industrial real do México.

Classificação JEL: C22; E44; F31; O24.


Crescimento econômico brasileiro e real (di)convergência na perspectiva de muito longo prazo (1822-2019): Uma avaliação histórica
Natalia I. Doré, Aurora A. C. Teixeira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3376

A reconstrução da histórica econômica do Brasil desde a independência por Portugal
(1822) pode levar a uma nova compreensão do seu crescimento econômico. A ideia
enraizada de que o Brasil podia ter feito mais implica a necessidade de se analisar cada fase
do seu desenvolvimento. Neste artigo, nós fornecemos uma perspectiva do crescimento econômico
brasileiro e seu processo de real convergência no muito longo prazo (1822-2019).
Por um lado, esta revisão indica que as mudanças estruturais observadas na metade do
século XX foram cruciais em promover o crescimento e a real convergência do país ante
países tecnologicamente avançados. Por outro lado, as condições institucionais precárias e
a deficiência na formação de capital humano são fatores críticos subjacentes a inabilidade
do Brasil em estabelecer um crescimento econômico robusto e sustentável desde tempos
coloniais.

Classificação JEL: N10; N16; O40.


Investimentos públicos e privados no Brasil entre 1996 e 2018
Sabrina Monique Schenato Bredow, André Moreira Cunha, Marcos Tadeu Caputi Lélis
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3273

Este trabalho analisa os efeitos dinâmicos gerados pelos investimentos públicos
sobre os investimentos privados em máquinas e equipamentos no Brasil, entre os anos de
1996 e 2018. Teorias apoiadas no princípio da demanda efetiva fundamentam a hipótese
formulada sobre a complementaridade entre os investimentos públicos e privados. Do ponto
de vista empírico, o trabalho lança mão de especificação do modelo econométrico de Vetores
Autorregressivos (VAR) que permite tratar os investimentos públicos como exógenos
ao sistema. Os resultados apontam que o aumento dos investimentos públicos impulsionou
as inversões privadas durante o período analisado, com indicativos de ação através dos
canais apontados.

Classificação JEL: O11; E22; O23.


Inovações e condicionantes no financiamento do desenvolvimento: O caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e as indústrias sustentáveis
João Carlos Ferraz, Luma Ramos, Bruno Plattek
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3303

Este artigo analisa a capacidade do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) desenvolver e implementar inovações financeiras para
fomentar a indústria eólica local e seus fornecedores, no Brasil, na década de 2010,
quais fatores exógenos e endógenos condicionaram suas ações e quais resultados foram
alcançados relacionados. O artigo demonstra que fatores associados ao progresso técnico,
mercado e política constituíram janelas de oportunidades exógenas, enquanto, do ponto de
vista interno, o BNDES mobilizou competências necessárias para implementar sucessivas
inovações financeiras, resultando em desenvolvimentos significativos da indústria e seus
fornecedores. Espera-se que este artigo possa contribuir para acadêmicos e policy-makers
interessados em discutir inovações em políticas públicas.

Classificação JEL: O13; O16; O25; Q01; Q48.


Progressividade e impactos distributivos do imposto de renda de pessoa física: o caso da China e do Brasil
Pedro Rossi, Ricardo Gonçalves, Ping Shang
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3323

Este artigo tem o objetivo de avaliar e comparar o impacto distributivo das faixas
de imposto de renda sobre pessoa física na China e no Brasil estimando o Coeficiente de Gini
antes e depois da aplicação desse imposto. O artigo também estabelece uma metodologia
para transpor as faixas de imposto de renda entre esses dois países. Os resultados mostram
que faixas mais progressivas realizadas pela China, com maior número de alíquotas e com
taxa marginais mais elevadas, não garantem maior redução da desigualdade. Argumentamos
que isso ocorre devido à alta faixa de isenção e às baixas alíquotas das primeiras faixas, que
acabam reduzindo a taxa efetiva para a maioria da população chinesa, incluindo aqueles
considerados ricos dentro da distribuição de renda desse país. Com isso, percebe-se que as
alíquotas de IRPF desses dois países merecem revisões caso busquem cumprir melhor a sua
função distributiva.

Classificação JEL: E62; H24; N45; N46.


Inteligência Artificial e emprego: uma revisão sistemática
Rafael de Acypreste, Edemilson Paraná
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3320

Este artigo apresenta uma revisão sistemática da literatura, com base em
procedimentos bibliométricos, das obras (Economia Política), produzidas entre 2008 e
2020, sobre as relações entre Inteligência Artificial e emprego. Ele detecta uma tendência de
crescimento de artigos publicados nesta área, especialmente a partir de 2019, e identifica
quatro grupos principais de preocupações sobre o tema. Dentro desses grupos, pode-se
notar uma prevalência de abordagens mais otimistas sobre as céticas e, especialmente, de
abordagens econômicas ortodoxas sobre heterodoxas sobre o assunto. De maneira geral,
é possível apreender que tanto os trabalhos quanto suas métricas são bastante dispersos
e variados em escopo. Entre outras razões, isso se deve à falta de uma definição básica
comum, no campo, do que é IA em primeiro lugar.

Classificação JEL: J21; O33; P16.


A retórica da austeridade
Guilherme Cardoso
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3293

Sob a influência da contribuição de Deidre N. McCloskey no campo da Metodologia
da Economia, o presente artigo tem como objetivo explorar a retórica empregada
no campo da economia fiscal, especificamente no contexto de consolidação fiscal. O texto
desvenda alguns “mitos” da austeridade e indaga o componente moral latente na atual
agenda de política econômica brasileira.

Classificação JEL: B4; E65.


Medindo o capital humano: quadro metodológico para avaliar a competitividade e o desenvolvimento econômico
Alexey Koryakov, Irina Kazaryan, Margarita Afonasova, Irina Litvin
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3333

Este artigo enfocou a relação entre capital humano (HC) e competitividade na
Rússia. O estudo examinou (1) o impacto dos investimentos em indústrias intensivas em
conhecimento no desenvolvimento socioeconômico; (2) o impacto da proporção de empregados;
(3) o impacto de fatores religiosos no HC; e (4) os problemas de formação de
H em empresas inovadoras. Em nível nacional, os investimentos em indústrias intensivas
em conhecimento não têm efeito sobre o desenvolvimento socioeconômico do país. O crescimento
do PIB provou estar diretamente relacionado ao desejo das pessoas de melhorar
suas qualificações. O impacto dos fatores culturais, educacionais e de saúde diferem entre
as regiões.

Classificação JEL: E24; J24; O15.


Conformidade fiscal e economia comportamental: uma análise da influência do contexto decisório
Ana Carolina Astafieff da Rosa Costa, Morgana G. Martins Krieger, Yuna Fontoura
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2022-3343

Sonegação fiscal continua sendo um problema relevante no Brasil e no mundo.
A Economia Comportamental tem buscado compreender este comportamento por meio
da realização de experimentos que visam entender o processo decisório dos indivíduos.
Este trabalho se propõe a analisar como a estrutura do contexto de tomada de decisão
pode influenciar a eficácia das intervenções comportamentais que buscam aumentar a
conformidade fiscal. Por meio de análise de conteúdo de artigos científicos da área, foram
identificadas cinco categorias contextuais que influenciam os experimentos. Assim, a
pesquisa provê entendimento sobre os aspectos contextuais e como estes influenciam no
desenho das intervenções.

Classificação JEL: B40; B41; C90; C91; C93; D91; H26; H30; D91; K34.


A atuação da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil (CREAI): 1937-1969
André da Silva Redivo, Predo Cezar Dutra Fonseca
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3204

Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI), do Banco do Brasil, foi a mais
importante instituição de fomento à produção do Brasil até a criação do BNDE, em 1952.
Todavia, os trabalhos voltados a avaliar sua atuação ainda são escassos, mesmo diante de
sua contribuição no período que vai de 1937 a 1969, marcado pelo Processo de Substituição
de Importações e pelo desenvolvimentismo. A principal hipótese aponta que, a despeito de
ter inovado por institucionalizar o crédito à produção pela primeira vez, o principal fator
de limitação para a atuação da CREAI foi a sua estrutura de funding. As fontes primárias
são os relatórios do Banco do Brasil apresentados nas Assembleias Gerais de Acionistas,
sendo aqui utilizadas as estatísticas de financiamento das atividades econômicas e estrutura
de recursos. Os resultados confirmam a hipótese, mas também destacam que o predomínio
do setor agrícola não pode subestimar a importância da carteira ao financiamento da
indústria, pela primeira vez de forma oficial.

Classificação JEL: G24, O23, O43.