v. 38 n. 3 (2018): Jul-Set / 2018


v. 38 n. 3 (2018)

Jul-Set / 2018
Publicado em fevereiro 26, 2020

Artigo


Uma avaliação formal da teoria e da política novo desenvolvimentista
Ariel Dvoskin, Germán David Feldman
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2892

Desenvolvemos uma estrutura formal que endogeneiza a estrutura produtiva de uma pequena economia periférica aberta como o resultado de um problema de escolhas técnicas. Em seguida, examinamos as principais teses teóricas e prescrições políticas da abordagem neodesenvolvimentista do desenvolvimento econômico. Argumentamos que: a) não apenas o padrão de especialização depende das condições técnicas, mas também da distribuição de renda; b) numa economia sem rendas, o nível do rácio do salário nominal-taxa de câmbio é determinado univocamente quando a taxa de lucros é conhecida e mostra uma relação inversa com a mesma; c) se as rendas diferenciais forem consideradas, o nível da taxa de lucros pode ser estabelecido independentemente do rácio do salário monetário; d) o nível da taxa de câmbio que garante a rentabilidade normal do setor primário não precisa coincidir com a taxa de equilíbrio em conta corrente; e) a taxa de câmbio efetiva não precisa gravitar em torno de nenhum desses dois níveis anteriores, que devem ser vistos como limiares mínimos da taxa efetiva; e) as consequências distributivas desagradáveis da depreciação da taxa de câmbio podem ser parcialmente evitadas por meio de impostos de exportação que não elevam os custos de produção de commodities primárias.

Classificação JEL: B22; E11; F43.


A lucratividade dos bancos norte-americanos após a crise de 2007/2008
Marco Bulhões Cecilio
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2792

Este trabalho tem como objetivo avaliar como se comportou a rentabilidade dos grandes bancos americanos após a crise de 2007/2008, além de buscar explicações preliminares que ajudem a explicar o comportamento encontrado. Para isso, avalia os dados históricos de 1932 até 2015. Os resultados mostram que a fatia dos lucros totais da economia americana capturada pelo setor financeiro reduziu-se em relação ao auge dos anos 2000, mas ainda encontra-se em patamar superior ao do período pós-Guerra. Os indícios apontam para a diminuição da alavancagem por pressão regulatória como principal causador da redução.

Classificação JEL: E01; G21; N22


É este o fim da hegemonia North-americana? Uma perspectiva estruturalista sobre os ciclos sistêmicos de acumulação de Arrighi e a teoria da estabilidade hegemônica
Marcos Vinicius Isaias Mendes
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2799

O artigo objetiva apresentar alguns aspectos do debate sobre o fim da hegemonia dos Estados Unidos, à luz das teorias dos ciclos sistêmicos de acumulação e da estabilidade hegemônica. Entre suas conclusões, o artigo demonstra que a hegemonia dos EUA está diminuindo não apenas pela emergência de novas nações poderosas, como a China, mas porque o sistema internacional, composto por novos e influentes atores, tais como corporações multinacionais, cidades globais, organizações religiosas e grupos terroristas transnacionais, está diminuindo os meios pelos quais os EUA têm exercido seu poder global desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Classificação JEL: F500


O mercado na perspectiva da "velha" e da "nova" economia institucional
Adriano José Pereira, Herton Castiglioni Lopes
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2774

Este artigo concebe o mercado como uma instituição, contrastando duas abordagens teóricas: os institucionalistas com viés analítico evolucionário, cuja base teórica vem do “velho/original” institucionalismo, e a Nova Economia Institucional, com uma abordagem de viés analítico contratual, vinculada ao mainstream economics. Ambas as abordagens têm dado relevantes contribuições ao considerarem a importância das instituições para o desempenho econômico. Destaca-se um dos limites da abordagem da Nova Economia Institucional, cuja análise do funcionamento dos mercados está centrada na lógica da busca de economia dos custos de transação, como determinante do desempenho econômico. Por sua vez, o institucionalismo evolucionário compreende o mercado em um escopo mais amplo, em que as economias de custos explicam apenas parcialmente o desempenho econômico, não se constituindo, necessariamente, em um fator determinante.

Classificação JEL: B15; D23.


Summers depois de Hansen? Comparação das explicações convencionais e não convencionais acerca da estagnação nas economias avançadas
Assilio Luiz Zanella de Araujo
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2919

O presente artigo apresenta e compara as explicações convencionais e não convencionais acerca da estagnação nas economias avançadas. Enquanto as primeiras atribuem a insuficiência crônica de demanda à uma nova rigidez das economias, o keynesianismo-estruturalista a considera resultado da implementação das políticas econômicas neoliberais e da destruição das instituições do período pós-Segunda Guerra. A explicação marxista em tela, ainda que não negligencie o impacto negativo destas políticas, enxerga esse problema como decorrente da formação dos grandes oligopólios internacionais. Em virtude das semelhanças e possível complementaridade, consideramos que uma maior aproximação entre as correntes keynesiano-estruturalista e marxista seria benéfica a ambas.

Classificação JEL: B50; E60; O11.


Revisitando o debate inercialista da inflação brasileira
Hugo Carcanholo Iasco Pereira, Marcelo Luiz Curado
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-35172018-2793

O objetivo deste artigo foi investigar as teorias da inflação inercial representadas pelas versões dos autores da PUC-RJ e da FGV-SP em uma perspectiva comparada, enfatizando os elementos teóricos comuns e como isto se materializou nas propostas de estabilização para a economia brasileira. Embora exista um background comum às teorias, com rigor analítico, elas são substancialmente diferentes, constituindo estratégias de estabilização bastante díspares. Concluiu-se que o inercialismo não pode ser considerado um corpo teórico uniforme, sobretudo no tocante a ruptura com a ortodoxia e a concepção monetária, conflito distributivo e plano de estabilização e o imperativo de neutralidade distributiva.

Classificação JEL: B0; B22.


A Virtù Econômico-Monetária
Mauricio Metri
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2868

Este artigo propõe uma análise sobre economia e moeda no campo das práticas geo-estratégicas, ou seja, como parte da virtù das autoridades centrais que comandam as unidades político-territoriais do sistema internacional. Argumenta-se que as disputas geopolíticas implicam desafios, por um lado, associados ao desenvolvimento de forças produtivas e militares e, por outro, relacionados à capacidade de gasto e financiamento da autoridade central. Para tanto, este artigo parte da dimensão espaço enquanto categoria analítica, associada a uma visão realista sobre o funcionamento do sistema internacional, para assim empreender uma análise sobre os saberes econômico e monetário a partir de dinâmicas geopolíticas.

Classificação JEL: F50; F52; E42; N40.


Governos Lula e Dilma em matéria de seguridade social e acesso à educação superior
Rosa Maria Marques, Salomão Barros Ximenes, Camila Kimie Ugino
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2784

O artigo faz um balanço das políticas sociais desenvolvidas no Brasil pelos governos Lula e Dilma (2003 – 2016). Nosso enfoque são as políticas de Seguridade Social e de acesso à educação superior, cuja apresentação e análise fazemos em quatro partes. A primeira é dedicada ao Programa Bolsa Família, considerado o carro-chefe dos programas sociais do PT. A segunda parte trata da Previdência Social e da política de valorização do salário mínimo; a terceira analisa aspectos da Saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS) e a quarta aborda a política de acesso à educação superior. Conclui-se que as políticas sociais realizadas pelos governos Lula e Dilma apresentam um duplo caráter. De um lado, não há dúvida que constituíram um avanço, melhorando as condições de vida e de reprodução das parcelas mais pobres do país, sobretudo por conta do Programa Bolsa Família, da valorização do salário mínimo e, para uma menor parcela, do acesso à educação superior gratuita. De outro lato, percebe-se que a via ou o instrumento eleito para que essa melhora ocorresse foi a renda ou o salário, mantendo-se, em geral, sem alteração as estruturas seculares que geram a pobreza e a desigualdade no país. Ao mesmo tempo, tais governos foram determinantes na consolidação do setor privado em aéreas de política social, inflando a pressão por privatização que tenderá a se acentuar nos próximos anos.

Classificação JEL: H5; I18; I2; J3.


Composição dos Juros Líquidos Pagos pelo Setor Público no Brasil: 2002-2017s
Nelson Henrique Barbosa-Filho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2882

Este artigo apresenta uma metodologia de decomposição dos juros líquidos pagos pelo setor público brasileiro em cinco itens: juros reais, correção monetária, swaps cambiais, custo da carteira financeira do governo e efeitos de segunda ordem. O artigo também apresenta outra metodologia com adição da senhoriagem à lista inicial. Os dados brasileiros indicam mudanças importantes na composição dos juros líquidos nos últimos 15 anos, com redução dos juros reais de 2009 de 2015, e elevação a partir de então. Os dados também mostram que o custo financeiro da carteira do governo subiu significativamente a partir de 2006, devido à acumulação reservas internacionais pelo Banco Central e empréstimos da União ao BNDES. 

Classificação JEL: H60; N16; E40.


Economia feminista: metodologias, problemas de pesquisa e propostas teóricas em prol da igualdade de gêneros
Brena Paula Magno Fernandez
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2815

Em que pesem as conquistas observadas nas últimas décadas tanto em termos de direitos políticos quanto da crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, desigualdades de gênero ainda persistem em vários aspectos da vida social, sendo o econômico talvez um dos mais visíveis deles. Fenômenos como as diferenças salariais entre homens e mulheres que desempenham idênticas funções, a segregação sexual no mercado de trabalho, a inserção feminina em trabalhos mais precários, bem como a sobrecarga nos trabalhos domésticos são alguns dos objetos de investigação da chamada economia feminista. Partindo desta perspectiva crítica e contrapondo-a com a perspectiva padrão em economia, o presente artigo propõe-se a mapear algumas propostas teóricas e instrumentos metodológicos disponíveis para identificar estas desigualdades de gênero. Além disso, apontamos a necessidade de rever os preceitos e conceitos da economia ortodoxa à luz das críticas da economia feminista e do princípio da igualdade de gênero, considerando as esferas produtiva e reprodutiva e as relações existentes entre elas. 

Classificação JEL: B41


A inovação nos serviços como instrumento para a Inovação Social: uma visão integrativa
Anita Kon
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-3157-2018-2814

Baseado nas premissas do campo de estudos proposto pela Comissão Européia nomeado como Inovação Social, o artigo examina o papel da inovação nos serviços como instrumento para o atendimento mais eficiente de demandas sociais, através de atividades intangíveis estatais e privadas, em resposta à complexidade das inter-relações e agentes envolvidos neste objetivo social. Apresenta uma visão das características diferenciadas da inovação nos serviços como um todo e da inovação social específica. Em seguida apresenta uma visão dos aspectos teóricos dos processos de organização e operacionalização nos serviços sociais, que derivam das inovações em serviços como um todo. Finalmente, examina o papel das redes de informação no aumento da eficiência e eficácia do atendimento das demandas sociais, através da inovação nos serviços. 

Classificação JEL: O35; L8.