v. 42 n. 1 (2022): Jan-Mar / 2022


v. 42 n. 1 (2022)

Jan-Mar / 2022
Publicado em janeiro 20, 2022

Artigo


A crise financeira global e seus efeitos sobre os fundos monetários internacionais
Cosimo Magazzino, Marco Mele
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3239

Este artigo tem como objetivo analisar as inovações introduzidas nas funções
do Fundo Monetário Internacional no contexto da crise econômica e financeira de 2008.
Isso promoveu uma ação que teve como objetivo fortalecer a função de vigilância por
meio da adoção da Vigilância Integrada. Assim, a par da condicionalidade tradicional
baseada na implementação a posteriori de políticas econômicas adequadas, introduziu-se
também um critério de condicionalidade ex ante nos ramos de precaução ou em função
das características econômicas do país a financiar. No que diz respeito à condicionalidade
tradicional, será perguntado se o FMI adotou uma abordagem menos abrangente do que
seu papel.

Classificação JEL: E42; F02; F42; G20.


Distribuição de renda e regime de crescimento econômico no Brasil: avaliação e propostas
Laís Fernanda de Azevedo, Pedro Cezar Dutra Fonseca, Fabricio J. Missio
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3244

O objetivo do artigo é analisar o regime de crescimento brasileiro no período
2000-2015, levando-se em consideração a distribuição pessoal e funcional da renda. Em
termos teóricos, seguimos o modelo neokaleckiano aumentado proposto por Palley (2016).
Em termos empíricos, utiliza-se a metodologia de vetores autorregressivos. Os resultados
mostram os efeitos positivos da redução da desigualdade em termos dos rendimentos
do trabalho e da desigualdade interpessoal da renda sobre a acumulação de capital e a
demanda agregada. A partir dos resultados, argumentamos em prol da adoção de um
modelo de crescimento que seja capaz de conciliar distribuição de renda e políticas de
incentivo às exportações.

Classificação JEL: C22; D31; D33; E25. 


O caminho para a Teoria Geral: J. M. Keynes, F. A. Hayek, e a Genealogia da Macroeconomia
Keanu Telles da Costa
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3231

A crítica feita por Friedrich A. Hayek ao Treatise on Money de John Maynard
Keynes, e a subsequente controvérsia que se seguiu com o envolvimento de membros do
Cambridge Circus, sustentou importantes elementos para o abandono por Keynes de suas
ideias iniciais e para o seu caminho para a General Theory. A figura e posição de Hayek
serviram para clarificar as diferenças subjacentes e as novas rotas teóricas para Keynes, que
viria a se tornar mais explicitamente oposta a autores que se baseavam em Knut Wicksell.
O caminho para a General Theory foi pavimentado em parte na famosa controvérsia de
1931, em particular a rejeição da chamada conexão Wicksell.

Classificação JEL: B22; B31; E12; E30.


Crescimento econômico sem bem-estar. O caso do impacto das commodities na economia colombiana
Andrés Felipe Oviedo-Gómez, Juan Manuel Candelo Viafara
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-%203018

O crescimento econômico nem sempre está relacionado ao bem-estar social.
Portanto, este artigo toma o caso da economia colombiana, que tem forte dependência
da exploração de commodities, para identificar os impactos de diferentes commodities
como petróleo, café, carvão e níquel sobre as variáveis econômicas. Os resultados mostram
que o aumento dos preços das commodities gera impactos significativos sobre a atividade
econômica em variáveis como PIB e investimento. Além disso, não há impactos significativos
sobre as variáveis que proporcionam bem-estar aos indivíduos como o consumo total ou a
taxa de desemprego.

Classificação JEL: F14; F41; O54.


Restrição de sobrevivência e regulação financeira: uma nova perspectiva minskyana
Ernani Teixeira Torres Filho, Norberto Montani Martins
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3179

Este artigo aponta a importância do conceito de “restrição de sobrevivência”
proposto por Minsky na gênese da introdução da regulação financeira moderna. O risco
de colapsos sistêmicos nos sistemas baseados em moeda fracionários levou os Estados
a suspenderem a aplicação da penalidade relacionada à restrição de sobrevivência – a
falência – aos bancos comerciais. Essa medida permitiu que esses agentes financeiros
pudessem, na busca por lucros, tomar decisões alocativas ainda mais arriscadas,
aumentando a fragilização financeira (moral hazard). Para mitigar esse comportamento
adverso, a regulação financeira procura todo o tempo estabelecer limites que emulem o
comportamento que esses agentes deveriam ter caso ainda estivessem sujeitos à restrição de
sobrevivência. Essas regras precisam ser permanentemente revistas de modo a acompanhar
a evolução dos mercados financeiros sob pena de se tornarem impotentes para evitar
situações de instabilidade financeira.

Classificação JEL: G00; G01; G18; G21; G28.


Uma palavra-chave nas notas de rodapé: o significado furtadiano e o (re)corrente de reformas estruturais
Guilherme Silva Cardoso
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3262

Uma mudança semântica ocorreu no escopo do termo reformas estruturais. Este
artigo revisa a obra de Celso Furtado, em particular, as relacionadas a esse tema específico, e
compara-a com a literatura atual. As reformas estruturais na concepção de Furtado conotavam
transformações de base e eram guiadas pela escola de pensamento desenvolvimentista. Hoje,
é do conhecimento geral que, sob a influência neoinstitucionalista, as “reformas estruturais”
estão associadas a políticas liberais de monitoramento das consolidações fiscais, sem consenso
quanto ao poder de eficácia. O esforço para resgatar e compreender as concepções originais
de certas palavras-chave na literatura de desenvolvimento econômico, bem como a maneira
como suas interpretações e práticas se modificam ao longo do tempo, mostra-se de suma
importância na luta do sistema capitalista para encontrar maneiras de se adaptar à situação
atual das economias em desenvolvimento.

Classificação JEL: O2; O54; P11.


Revisitando o teorema da Equivalência Ricardiana: notas introdutórias
Maria Isabel Busato
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3235

Estas notas visam retornar o debate sobre o modelo, resultados e principais
objeções à validade da Equivalência Ricardiana conforme apresentada em Barro (1974).
Pretende-se explorar sua tese de que impostos e dívidas se equivalem e não têm efeitos
reais sobre a riqueza percebida pelos agentes, a demanda, a taxa real de juros e nem sobre
a economia como um todo. A tese refere-se à análise sobre as formas de financiamento
de um dado volume de gastos e não trata dos efeitos de uma expansão naquele volume,
analisando, especificamente, os efeitos do aumento da dívida pública em decorrência da
redução nos impostos. Após sua apresentação, a tese foi bastante debatida, consolidando-
-se algumas premissas necessárias para sua validade. O texto objetiva explorar a primeira
rodada de debates sobre o tema, explicitando as restrições às quais estão sujeitas o teorema
Barro-Ricardo ou o teorema da Equivalência Ricardiana a partir das publicações de Barro
(1976), Buchanan (1976) e Feldstein (1976), todas elas dentro do ‘terreno’ da ortodoxia
econômica, incluindo nas considerações finais revisões e análises sobre o tema feitas por
Barro em artigos posteriores (1989 e 1996).

Classificação JEL: E00; E13; E21; E62.


Crítica das teorias da financeirização das empresas não-financeiras
Francisco Paulo Cipolla, Paolo Giussani
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3160

A financeirização das empresas produtivas é comumente concebida como
resultado da maior rentabilidade dos ativos financeiros. Mas se a taxa de juros é
sistematicamente menor que a taxa de lucro aquelas interpretações devem ser questionadas.

Classificação JEL: E11.


Política monetária no Brasil em tempos de pandemia
Carmem Feijó, Eliane Cristina Araújo, Luiz Carlos Bresser-Pereira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3353

O artigo discute a determinação da inflação no Brasil, sobretudo a partir da grande
recessão de 2015-2016, para avaliar a adequação da política de manipulação de taxas de
juros para controlar a alta de preços decorrente de pressão permanente de custos. O ônus de
usar a taxa de juros para combater inflação de custo é criar um nível altamente convencional
da taxa de juros real, o que, em uma economia financeirizada, beneficia a classe dos rentistas.
À luz da macroeconomia pós-keynesiana, a convenção de alta taxa de juros mantém a economia
com baixa taxa de crescimento e baixa taxa de investimento, o que no caso da economia
brasileira tem resultado em regressão da matriz produtiva e estagnação da produtividade e
ambos contribuem para perpetuar as pressões de custo sobre os preços. A análise empírica
corrobora a discussão de que a inflação recente teve sua origem em pressões de custos sobre
as quais o impacto da taxa de juros para seu controle é limitado. Complementamos a análise
empírica testando a resposta à taxa de juros SELIC das variáveis utilizadas para explicar a
flutuação dos preços livres e dos preços administrados: índice de preços de commodities, taxa
de câmbio e nível de atividade. Conforme esperado, o impacto da alta da taxa de juros valoriza
a taxa de câmbio, favorecendo o controle da inflação e reduzindo o nível de atividade,
mas não tem impacto no índice de preços das commodities.

Classificação JEL: E12; E31; E43; E52.


Padrões de inserção externa nas cadeias globais de valor: uma análise comparativa entre Brasil e China
Caroline Giusti de Araújo, Antonio Carlos Diegues
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3161

A literatura do comércio internacional tem mostrado os benefícios da
fragmentação internacional da produção aos países em desenvolvimento. No entanto, há
ponderações advindas da hierarquização e comando nas cadeias globais de valor. Nessa
perspectiva, esse trabalho objetiva avaliar a inserção internacional brasileira e chinesa
propondo um indicador de sofisticação tecnológica nas exportações (qtech) por intensidade
tecnológica para o período 2005-2015. Os resultados apontam que o acoplamento às
cadeias globais de valor e a sofisticação tecnológica têm sido direcionados a agrupamentos
tecnológicos que o Brasil possui vantagens comparativas reveladas estáticas enquanto a
China caminha para agrupamentos tecnológicos com vantagens comparativas dinâmicas.

Classificação JEL: O57; F15.


Corporate Venture Capital e Aceleradores Corporativos: diferenças e similitudes
Mateus Christiano König Martins, Rafaela Oliveira Padilha, Solange Maria da Silva
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3037

A pesquisa tem como objetivo apontar as diferenças e similitudes entre
Corporate Venture Capital (CorpVC) e Aceleradores Corporativos (AC), mecanismos estes
de colaboração entre empresas maduras e Startups. A pesquisa apontou que o fenômeno de
Aceleradores Corporativos e de Corporate Venture Capital são práticas de inovação aberta,
que podem ser semi-institucionalizadas em empresas que possuam a intenção de buscar
inovação em ambientes externos. O fato de CorpVC e AC serem baseados em objetivos
estratégicos, e não só financeiros, os diferenciam das outras modalidades de investimentos
feitas diretamente em empresas, no entanto, percebeu-se que ambas as estratégias têm
diferenças cruciais, que, se vistas anteriormente pela empresa madura, podem ser mais bem
aplicadas, garantindo o índice de sucesso maior, baseado no propósito e objetivo da
Corporação financiante.

Classificação JEL: M130.


A ação e o pensamento de Fernão Bracher, um conservador com espírito público
João Villaverde, José Marcio Rego
Brazilian Journal of Political Economy

Este artigo reflete a trajetória de Fernão Bracher à luz dos avanços institucionais
na administração pública brasileira a partir da redemocratização de 1985. Descendente de
família tradicional em São Paulo, Bracher vai canalizar seu espírito público e seu
nacionalismo econômico em três oportunidades, notadamente a partir da superação do
regime militar, quando preside o Banco Central do Brasil e depois se torna, a convite do
amigo e ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, o negociador brasileiro da dívida externa.
Menos teórico que Bresser, mas tão pragmático quanto ele, Bracher compartilhava a imensa
curiosidade intelectual do amigo, tendo auxiliado na troca de reflexões entre os diferentes
economistas envolvidos com a teoria da inflação inercial. Homem de ação, no setor privado
e no setor público, Bracher tem trajetória que ilumina a superação de dificuldades presentes
na política econômica nacional.

Classificação JEL: A10; E60; H63; H81; H83.


Efeitos das redes sociais nos resultados dos programas governamentais: uma revisão sistemática
Jéssica Faciroli, Ricardo da Silva Freguglia, Tassio Ferenzini Martins Sirqueira, Marcel de Toledo Vieira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3056

A adoção de políticas públicas para reduzir a desigualdade no Brasil cresceu
muito ao longo dos últimos anos, em decorrência de uma agenda de bem-estar social. Em
um mundo cada vez mais conectado, as interações sociais devem ser levadas em
consideração nas formulações de políticas públicas. Este estudo visa investigar e mapear de
forma sistemática os estudos na área de economia que consideram o papel das redes nos
resultados dos programas sociais e de transferência de renda. Pelo método de revisão
sistemática, mostra-se o estado da arte da literatura em relação à empregabilidade das redes
sociais, no âmbito das políticas públicas, destacando os principais métodos de estimação, as
estruturas das redes, os autores mais ativos na área, assim como as lacunas em aberto e
motivações para novas pesquisas.

Classificação JEL: D85; Z18; J18.


Uma visão ecológica do Novo Desenvolvimentismo: uma proposta de integração
Giulio Guarini, José Luis Oreiro
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572022-3310

O artigo tem como objetivo integrar o Novo Desenvolvimentismo com a Visão
Ecológica por meio dos conceitos de Mudança Estrutural Ecológica (ESC) e Coalizão de
Classe Ecológica (EDCC). ESC significa aumentar a participação do setor manufatureiro
verde no PIB e no emprego para aumentar a eficiência ambiental da economia. A
sobrevalorização da taxa de câmbio causada pela doença holandesa e o crescimento com
poupança externa podem prejudicar as indústrias manufatureiras verdes ainda mais do
que as indústrias manufatureiras marrons. O ESC precisa da existência de um EDCC que
pode ser dificultado se a sobrevalorização da taxa de câmbio não for removida por meio de
impostos sobre as exportações de commodities, controles de capital e um mandato duplo
para o Banco Central.

Classificação JEL: Q56; Q57; O11: O14.