v. 30 n. 1 (2010): jan-Mar / 2010


v. 30 n. 1 (2010)

jan-Mar / 2010
Publicado em janeiro 1, 2010

Artigo


A crise financeira de 2008 e a economia neoclássica
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Brazilian Journal of Political Economy

A crise financeira global de 2008 foi conseqüência do processo de financeirização, ou da criação de riqueza financeira fictícia maciça, iniciada na década de 1980, e da hegemonia de uma ideologia reacionária, a saber, o neoliberalismo, baseado em mercados auto-regulados e eficientes. . Embora o capitalismo seja intrinsecamente instável, as lições do colapso da bolsa de 1929 e da Grande Depressão da década de 1930 foram transformadas em teorias e instituições ou regulamentos que levaram aos "30 anos gloriosos do capitalismo" (1948-1977) e que poderiam evitaram uma crise financeira tão profunda quanto a atual. Isso não aconteceu porque uma coalizão de rentistas e “financiadores” alcançou hegemonia e, apesar de desregular as operações financeiras existentes, se recusou a regular as inovações financeiras que tornavam esses mercados ainda mais arriscados. A economia neoclássica desempenhou o papel de uma meta-ideologia, uma vez que legitimou, matematicamente e "cientificamente", ideologia e desregulação neoliberal. A partir dessa crise, um novo capitalismo emergirá, embora seu caráter seja difícil de prever. Não será financeirizado, mas as tendências presentes nos 30 anos gloriosos em direção ao capitalismo global e baseado no conhecimento, onde os profissionais terão mais voz do que capitalistas rentistas, bem como a tendência para melhorar a democracia, tornando-a mais social e participativa, serão retomadas.

Classificação JEL: E30; P1.

 


Ciência econômica e modelos de explicação científica: retomando a questão
Leda Maria Paulani
Brazilian Journal of Political Economy

A economia nasceu sob o signo de imprecisão metodológica. O primeiro autor que tentou resolver a questão (John Stuart Mill) afirmou que é um tipo de conhecimento que utiliza o método abstrato (dedução direta), mas também que é uma exceção, porque, para todos os outros fenômenos no campo da ciência moral, o método correto é o método dedutivo ou histórico inverso. Por outro lado, explicações funcionalistas condenadas pelos preceitos científicos da economia estão presentes na ciência desde o seu início com Adam Smith. A economia prosseguiu sem se preocupar com essas questões metodológicas, mas essa indefinição nunca saiu do palco. Desde o início do século XXI, novos fatos estão surgindo. Os desenvolvimentos em psicologia estão dando um novo fôlego ao ponto de vista de Friedman e parecem fortalecer a corrente principal (Rogebert e Nordberg, 2005), enquanto o desenrolar da complexidade da ciência promete derrubá-la e colocar em seu lugar outro tipo de explicação emprestada da biologia ( Beinhocker, 2006). Tudo isso estimula a retomar a questão. Fazemos isso aqui, sob uma visão crítica, assumindo a taxonomia das explicações científicas enquadradas pelo positivismo moderno.

Classificação JEL: B14; B40; B41.


Estado e economia na Coreia do Sul - do estado desenvolvimentista à crise asiática e à recuperação posterior
Alexandre Queiroz Guimarães
Brazilian Journal of Political Economy

O artigo enfoca as instituições do capitalismo sul-coreano e as interações entre o estado e a economia. O modelo econômico na Coréia do Sul foi caracterizado por um estado muito intervencionista, que desempenhou um papel muito ativo no processo de industrialização. No entanto, a Coréia do Sul sofreu uma grave crise em 1997, atribuída por muitos autores às distorções inerentes à forte intervenção do Estado. O artigo mostra que a crise foi resultado da combinação entre fragilidades econômicas internas e um rápido processo de desregulamentação financeira, o que prejudicou a capacidade de controle dos estados. A crise, no entanto, não desqualifica o papel das instituições nacionais no muito bem-sucedido processo de industrialização. Apesar das reformas, o capitalismo coreano conserva grande parte do modelo anterior de organização empresarial e relações industriais. O estado continua forte e teve papel ativo no processo de reformas econômicas. No entanto, existem dúvidas sobre os impactos das reformas e a nova configuração do capitalismo coreano. Dependem das transformações atuais na economia mundial e nos países do Leste Asiático.

Classificação JEL: P16; P52; O53; N40; N45.


Juros, câmbio e o sistema de metas de inflação no Brasil
Franklin Serrano
Brazilian Journal of Political Economy

Na visão de consenso do sistema brasileiro de metas de inflação, o núcleo da inflação se deve a choques de demanda; a taxa de juros é definida para controlar a demanda; e alguma variação na taxa de câmbio ocorre como “dano colateral”. Nesta nota, argumentamos que, na realidade, a inflação central vem do aumento de custos; a taxa de juros afeta a taxa de câmbio; mudanças na taxa de câmbio afetam custos e preços; é o efeito das taxas de juros sob demanda que é o “dano colateral” e que a âncora de longo prazo do sistema é a baixa rigidez média dos salários reais.

Classificação JEL: E31; E43; E11.


Uma nota sobre metas de inflação e crescimento econômico no Brasil
Gilberto Libânio
Brazilian Journal of Political Economy

Este artigo analisa a relação entre política monetária e desempenho econômico no Brasil no período 1999-2006. Em particular, discute os efeitos do crescimento do regime de metas de inflação por meio de seus efeitos sobre a demanda agregada. Argumenta-se que a política monetária sob a TI reage de maneira procíclica e assimétrica às flutuações da atividade econômica (muito "rígidas" durante as recessões, não tão "soltas" durante as expansões). Esse padrão pode gerar um viés de queda na demanda agregada, com efeitos reais negativos no crescimento do produto e no emprego. Nossos resultados sugerem que a política monetária tem sido pró-cíclica e assimétrica no Brasil, sob metas de inflação. A principal implicação da política econômica deste estudo é que os bancos centrais devem considerar mais seriamente os reais efeitos da política monetária sobre a produção e o emprego.

Classificação JEL: E52; E58.


Incertezas, política monetária e estabilidade financeira: desafios nas metas de inflação
Gabriel Caldas Montes
Brazilian Journal of Political Economy

Este trabalho tem como objetivo apresentar os desafios que a inflação voltada para os bancos centrais pode enfrentar, uma vez que as incertezas representam um elemento prejudicial para a eficácia da política monetária, e como as instabilidades financeiras podem atrapalhar os mecanismos de transmissão - em particular o canal de expectativas - e, portanto, a estabilidade econômica. A estabilidade financeira não deve ser considerada como uma meta simples da política monetária, mas uma condição prévia para os bancos centrais operarem suas políticas e atingirem as metas de inflação e estabilidade do produto. O trabalho identifica diferentes fontes de incertezas que cercam as decisões dos bancos centrais; e aborda o papel que a inflação direcionada aos bancos centrais deve desempenhar de acordo com alguns princípios básicos que podem servir como guias úteis para os bancos centrais, a fim de ajudá-los a obter resultados bem-sucedidos na condução da política monetária.

Classificação JEL: E52; E58; E61.


Os efeitos das políticas industriais para o setor de produtos eletrônicos do Brasil
Jorge Chami Batista
Brazilian Journal of Political Economy

A reputação do Brasil em políticas industriais verticais é terrível. O caso da indústria eletrônica é um bom exemplo. Conforme medido pelo desempenho das exportações brasileiras em relação a um grupo de economias emergentes, o resultado dessas políticas foi um desastre total. Não fosse a inadequação das políticas industriais do Brasil para esse setor, as exportações de manufaturas poderiam ter sido entre 36% e 46% mais altas do que realmente eram. As perdas acumuladas no Brasil a partir de 1984, quando empresas de microcomputadores estrangeiras foram proibidas de operar no país, estima-se que sejam de 3,6 a 4,6 a receita de exportação de manufaturados do país em 2005.

Classificação JEL: F14; F17; L52; L6; L63.


A sobrevivência das pequenas empresas no desenvolvimento capitalista
Oswaldo Guerra, Francisco Teixeira
Brazilian Journal of Political Economy

A reputação do Brasil nas políticas industriais verticais é terrível. O papel das pequenas empresas no desenvolvimento capitalista aumentou, ao longo dos anos, a curiosidade analítica de economistas e outros cientistas sociais. Apesar das enormes desvantagens que possuem na competição com o grande capital, existem inúmeras razões para sua sobrevivência. A evidência empírica é clara ao atestar a importância das pequenas empresas em termos de participação no PIB e criação de empregos e, ao mesmo tempo, suas dificuldades para sobreviver. Este artigo apresenta uma revisão teórica, partindo de Marx, Marshall, Steindl e Schumpeter, até alguns autores contemporâneos, sobre o papel das pequenas empresas no desenvolvimento capitalista, enfatizando as razões e as dificuldades para sua sobrevivência.

Classificação JEL: O10.


O efeito da intenção de reeleição sobre gastos em saúde Uma análise com base no modelo da reputação política
Lucas M. Novaes, Enlinson Mattos
Brazilian Journal of Political Economy

O modelo político de construção da reputação argumenta que, se o político titular aspira ser transferido, ele / ela deve agir no interesse dos eleitores para obter sua aprovação e, consequentemente, seus votos. Considerando que os eleitores são sensíveis às despesas de saúde pública, verificamos como os incentivos à reputação mudam os padrões de gastos municipais nos anos eleitorais. Os testes empíricos para 3004 municípios brasileiros mostram um aumento nos gastos com saúde nas cidades em que os operadores históricos estão tentando manter seus empregos. Além disso, encontramos um aumento nas despesas com saúde, onde os prefeitos perdem a chance de serem reeleitos para o benefício de um companheiro de partido.

Classificação JEL: D72; H51; H72; I18.


Transparência do Banco Central: uma análise para o caso brasileiro
Helder Ferreira de Mendonça, Adriana Inhudes
Brazilian Journal of Political Economy

Atualmente, os bancos centrais tendem a aumentar a transparência na condução da política monetária. Após a adoção da meta de inflação no Brasil, houve um aumento na comunicação do Banco Central do Brasil com o público. Este artigo faz uma breve revisão da literatura teórica e empírica recente sobre esse assunto. Além disso, é feita uma análise devido à transparência na condução da política monetária brasileira sobre importantes variáveis ??macroeconômicas. Os resultados indicam que um aumento na transparência melhora o comportamento de várias variáveis ??macroeconômicas.

Classificação JEL: E52, E43.